Mercado argentino dá choque de realidade a Milei após 'lua de mel'
Cenário é de queda dos preços de títulos, peso enfraquecido e investidores cautelosos com os novos leilões de dívida do governo. Javier Milei na Argentina
Cenário é de queda dos preços de títulos, peso enfraquecido e investidores cautelosos com os novos leilões de dívida do governo. Javier Milei na Argentina AP Photo/Natacha Pisarenko Os mercados argentinos, que dispararam após o presidente Javier Milei tomar posse em dezembro, agora estão dando ao líder ultraliberal uma dose de realidade.
O cenário é de preços de títulos caindo, peso se enfraquecendo novamente e investidores cautelosos com os novos leilões de dívida do governo. O banho de água fria dos investidores, após uma lua de mel inicial, ressalta o enorme desafio de Milei ao tentar conter a inflação — que se aproxima de 200% —, evitar a agitação social, reconstruir as reservas do país e resgatar um programa de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Sem maioria no Congresso, o novo presidente argentino também enfrenta resistência ao seu projeto de reforma "Ómnibus", que visa privatizar entidades estatais e aumentar os impostos. Um decreto que desregulamenta a economia também enfrentou obstáculos legais. Reforma trabalhista, privatizações, aluguéis: os principais pontos do decreto de Milei "A realidade está batendo na cara dele", disse à Reuters o analista financeiro local Marcelo Rojas. "Suas intenções são boas, mas isso não é suficiente e é isso que estamos começando a ver."
Os preços dos títulos soberanos do país começaram a cair depois de uma forte corrida desde a vitória de Milei em meados de novembro. Um índice de risco do país atingiu o nível mais alto em sete semanas, e um título destinado aos importadores não conseguiu encontrar compradores. Enquanto isso, a diferença entre a taxa de câmbio oficial do peso-dólar e as taxas paralelas — usadas por muitos para contornar os rígidos controles de capital — está aumentando novamente depois que uma grande desvalorização em dezembro a reduziu significativamente.
"O governo está começando a enfrentar seus primeiros obstáculos. Sua falta de força política está agora mais evidente: o bônus para os importadores não conseguiu decolar e a diferença cambial aumentou novamente mais cedo do que o esperado", disse a corretora Cohen em uma nota. Ela acrescentou que o decreto de Milei e o projeto de reforma não parecem promissores, a menos que o presidente esteja disposto a fazer concessões.
No entanto, o banco central acumulou quase US$ 4 bilhões em reservas de moeda estrangeira desde que Milei assumiu o cargo, e o índice de ações local S&P Merval continua em forte alta, com a empresa petrolífera estatal YPF sendo impulsionada por conversas sobre privatização. Olhos na inflação Enquanto isso, todos os olhos estão voltados para a economia, com a expectativa de que a inflação tenha chegado a quase 30% em dezembro e ultrapassado 200% no ano passado. Dois quintos da população já está na pobreza.
O país, um importante exportador de grãos, também está correndo para reviver seu enorme acordo com o FMI, com negociações em Buenos Aires na última semana com o objetivo de desbloquear a sétima revisão do programa e cerca de US$ 3,3 bilhões em recursos. O economista Aldo Abram, da Fundação Libertad y Progreso, disse que as perspectivas do mercado dependem muito do sucesso ou fracasso de Milei em suas reformas.
"O lado ruim é que, como está acontecendo agora, todas as notícias que possam desacelerar o progresso do governo criarão uma queda ainda maior na demanda por pesos, colocando-nos mais perto da hiperinflação", disse Abram. "Por outro lado, tudo o que levar à confirmação da mudança de rumo incentivará a preferência por ativos locais, afastando-nos da crise."