Ataque dos EUA a alvos Houthis no Iêmen oferece riscos para Biden
Em ano eleitoral, presidente americano pode ser arrastado para uma guerra contra a milícia patrocinada pelo Irã. Foto de novembro de 2023 mostra um helicóptero militar dos Houthis sobrevoando o navio de carga Galaxy Leader no Mar Vermelho.
Em ano eleitoral, presidente americano pode ser arrastado para uma guerra contra a milícia patrocinada pelo Irã. Foto de novembro de 2023 mostra um helicóptero militar dos Houthis sobrevoando o navio de carga Galaxy Leader no Mar Vermelho.
Houthi Military Media/Handout via REUTERS A coligação liderada por EUA e Reino Unido cumpriu o que prometeu, bombardeando mais de 60 alvos em 16 locais do Iêmen controlados pelos Houthis, a milícia patrocinada pelo Irã e considerada uma peça importante da sua rede na região. Sucessivas advertências ao grupo sinalizaram duramente nas últimas semanas que não haveria tolerância para quem perturbasse o transporte marítimo no Mar Vermelho.
Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Os rebeldes iemenitas desafiaram o alerta, na terça-feira (9), com uma barragem de mísseis e drones contra navios do Mar Vermelho, e receberam a resposta, da operação batizada de Guardião da Prosperidade, criada em dezembro para proteger a navegação.
O que vem a seguir, após a retaliação da coalizão multilateral, vai depender da reação dos Houthis — se continuarão dispostos a serem arrastados numa guerra por procuração do Irã contra os EUA, conforme observou Thomas Warrick, ex-subsecretário Adjunto para Política Antiterrorista do Departamento de Segurança Interna dos EUA:
“O mundo está prestes a descobrir se os Houthis querem continuar os seus ataques e arriscar que os Estados Unidos e seus aliados atinjam ainda mais alvos estratégicos do grupo”, atestou o especialista em seu comentário ao think tank Atlantic Council. Para o presidente dos EUA, Joe Biden, a resposta militar a alvos dos Houthis no Iêmen também oferece riscos. O maior deles é de se envolver abertamente num conflito militar em ano eleitoral.
O presidente americano vem conduzindo as peças no palco do Oriente Médio de forma a evitar uma guerra regional. Não reagir aos ataques sucessivos do grupo instigado pelo Irã, por outro lado, significa dar uma demonstração de fraqueza a seus adversários políticos e aos inimigos externos.
Conhecidos como “Partidários de Deus”, os Houthis declararam ter aderido à guerra de Gaza ao lado do Hamas e contra Israel e já demonstraram, com sucessivos desafios, que não têm muito a perder. São representantes do Irã num local estratégico para o comércio marítimo: o Estreito de Bab-el-Mandeb, que liga o Mar Vermelho ao Golfo de Aden, e por extensão, ao Oceano Índico.
Cerca de 15% da navegação mundial trafegam pelo Mar Vermelho; redirecionar os navios significa adicionar dez dias extras às rotas marítimas e mais prejuízos à cadeia de abastecimento e à economia global. Os EUA e seus aliados estão diante de um inimigo complexo — uma milícia que não responde a um Estado; ao contrário, combate o governo do Iêmen.
O grupo rebelde protagonizou, por nove anos, uma guerra civil contra o governo do país, num confronto por procuração entre Irã e Arábia Saudita.
Uma trégua acordada em 2022 sustenta de forma precária o fim do conflito, que deslocou mais de 4,5 milhões de pessoas e causou o mais grave desastre humanitário da atualidade, segundo a ONU. As provocações sucessivas dos rebeldes com ataques a navios no Mar Vermelho são um indício de que esta primeira resposta militar dos EUA não deverá ser a última.